não-verbal

21/04/2015

canto mil músicas pra ele, sobre ele, sobre mim, sobre o amor, sobre a paixão, em inglês. as palavras escorrem de mim, na direção dele, liquefeitas e cremosas.

ele não entende inglês. então, de vez em quando, canto olhando nos olhos dele. ele sorri. sempre sorri e me olha lá dentro. no final de tudo, me beija.

acho que ele entendeu.

 

 

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beijo

10/08/2013

a gente ainda não se beijou porque, no dia em que a gente se beijar, a catedral do Rio de Janeiro vai decolar feito uma nave, e as pedras portuguesas vão descolar das calçadas, e a escadaria do Selarón vai virar um tapete pra gente passar e a Lapa vai parar.

só por isso que a gente ainda não se beijou,

só por isso.

herança

25/08/2012

Thereza, minha flor,

A música é o lugar mais lindo que existe. Por isso que eu te dei o violão, porque eu sei que vc adora música e, agora que vc tá crescendo, eu adoraria que vc desse uma chance pra música conquistar um lugar pra morar dentro de você. Quando a gente deixa ela entrar na nossa vida e sai de mãos dadas com ela por aí, quando a gente toca um instrumento, quando a gente canta, mesmo que seja só por dentro, a gente está sempre bem acompanhada, onde quer que a gente vá. Pra isso, a gente não precisa ter, nem ser, nada. A música é de todo mundo.

A música reúne as pessoas, traz amigos e alegria, embeleza o mundo, ajuda a gente a se expressar, ajuda a gente a entender nossos sentimentos e a botar os bichos pra fora. Quando a gente tem a música dentro da gente, a beleza é mais bonita e a vida é muito melhor. Música é tudo de bom!

A música me apresenta pessoas, situações e lugares maravilhosos, me leva pra passear e me alimenta, me faz rir e chorar. A música me dá as maiores felicidades da minha vida, me faz sonhar, me faz ter vontade de ir sempre em frente, de viver sempre mais. Tomara que vcs sejam muito amigas para sempre!

 

alma feminina

26/05/2012

adoro quando dizem que eu canto bem. sinto que estou sendo reconhecida por aquilo a que dediquei a minha vida, aquilo que me faz mais feliz e plena como pessoa. também fico super prosa quando dizem que escrevo bem, que meu texto é bom, inteligente etc; li ávidamente, amo as palavras, sou a única pessoa, que eu conheço, que tirou 10 na prova de português do vestibular. nasci com isso. também sempre tive muito prazer em ser elogiada por dançar bem, qdo dançava, e por cozinhar bem, qdo cozinho. todo elogio é um quentinho por dentro. mas eu gosto mesmo é quando um homem me chama de gostosa. isso sim é que é elogio pra mulher: gostosa.

devassidão

18/03/2012

ele cruzou comigo na escadaria, eu subindo, ele descendo, em busca dos nossos assentos. era uma grande noite, cheia de pessoas vendo e sendo vistas. eu vestia branco, lembro bem. ele, sempre encantador e de paletó. os cabelos desalinhados,  a barba crescida, suado, atarefado e gato, o costumeiro hálito alcoólico.

passou por mim, me abraçou pra me cumprimentar, e sussurou no meu ouvido: “só não te como, porque tenho namorada”. en garde, respondi: “não! vc só não me come porque eu não quero”. rimos muito da nossa rapidinha gostosa na escada do teatro, e seguimos.

Hoje, quando soube que ele morreu – poeta jovem, rebelde permanente,  artista e acadêmico supercarioca-  ele, arquetipicamente eterno, sempre mirando num alvo que ninguém via, eu só conseguia pensar: “por que não dei pra ele?”  (isso lá é coisa que se pense numa hora dessas? )

despudorada, acho que ele gostaria desse epitáfio, publicado no dia da sua própria morte. ele, dionisíaco, esfogueado e vivinho da silva, mesmo assim, morto, do jeito que está agora.

fumo

06/03/2012

Preciso ler um poema arrebatador, preciso ouvir uma música que me penetre a alma, preciso ver um filme que me faça chorar muito. Preciso ajudar crianças em risco social, preciso dar atenção à minha família, preciso consertar o piso do meu apartamento e o pedal de sustain do piano. Preciso urgentemente ouvir os CDs que comprei e nunca, os livros que se amontoam na minha cabeceira e nada, os amigos que não vejo, a paz que nunca encontro.

Ontem ele passou o dia, a noite e a madrugada comigo, me vendo trabalhar, jogando beijos de longe. Me beijou na boca, na frente de todo mundo e disse: “vamos ter um filho, vamos logo? Imagina os cílios…”, ele disse, piscando aqueles olhos cinza-azeitona, com kajal de nascença, as pestanas espessas e longas, coisa mais linda que eu já vi. Pisquei os meus, porque também nasci de rímel: “Vamos, vamos sim!” “E se for menina, ele disse? Tem um nome?” “Cecília, Clarissa, um monte”, eu disse. “E menino?” “Menino quero o nome do meu pai”, romantizei. “Tá ótimo”, ele disse. Era a primeira vez que nos beijávamos. Era a primeira vez que nos beijávamos.

“Vamos ensaiar”, eu disse, “antes de ter um filho vamos ensaiar?”. “Sim, vamos marcar uns ensaios”, ele falou, como se a gente estivesse armando de montar uma banda nova. “Mas filho, só tenho com marido”, eu disse. “Então, vamos casar”, ele disse.

Palavras saem da boca como se escapulissem de dentro por vontade própria, vazias de sentido caem no chão, misturam-se ao som alto do bar, sobem à cabeça com vodca e lima da pérsia. Feito fumaça, rarefeitas, volatilizam e caem no esquecimento um minuto depois

.

pra ouvir ao ler o post aí de baixo:

paixão

09/11/2010

Tem gente que fala que a paixão é um inferno, mas eu discordo. Pra mim, a melhor coisa da vida é ficar apaixonada. Depois que passa a paixão a pessoa vira gente e é aquilo, né? Todo mundo tem pentelho, só a bailarina que não tem.

Eu fico maravilhosa apaixonada. Emagreço, componho, escrevo sem parar e me sinto linda, pronta, quente, animada, energizada, no topo da cadeia alimentar. Até o cabelo brilha, os olhos irradiam luz e do centro do peito sai uma rosa vermelha e perfumada. Cafona e superior, é assim que me sinto apaixonada. E livre.

Da ultima vez em que me apaixonei mesmo, bom, deixa pra lá, até hoje nao anotei a placa do veículo que me abalroou.

Sinto no ar um cheirinho de paixão. Como uma adolescente fico pensando que magias eu poderia fazer para trazer a pessoa amada em três dias. Ou menos. Não tenho cara de pedir uma coisa dessas pros deuses, pq depois que a gente lê umas coisas aí, a gente aprende que nem sempre o que a gente quer é que é o bom. Ai, que saco.

Entao  mudo a reza: Atenção, deuses do amor, afrodite, vênus, cupido, lembrem-se de mim e joguem uma flor com meu cheiro no colo daquele moreno. Se ele gostar, ele é meu!

fla-flu

30/10/2010

ele estava de camisa do fluminense: “Oi, gata, vc é a mais linda deste samba, vc nasceu pra ser minha…”

eu: “poxa, sinto muito, mas não vai rolar, eu sou flamenguistta…”

ele: “tá vendo? nós somos um clássico!”

aí vc conhece um cara, de tt que vc vê ele todo dia caminhando na praia, anos e anos a fio. quer dizer: eu ando. ele fica parado. Estou na fase super herói: mulher invisível… pois então. O cara nem é lá grandes coisas, mas é simpático, conversamos umas duas vezes, ele cheio de charme. Defeito 1: fuma cigarro e  cigarro não dá. Primeiro pq nao dá, mesmo, é a burrice mais burra da humanidade. Segundo pq eu sou cantora e ex-fumante, tenho que manter a distância.

Um dia, ele me chamou pra tomar um drinque. Reparei que ele estava com um boné daqueles com o emblema da polícia de Nova York (!). Deixa de ser preconceituosa, por isso que vc nao arruma namorado!!! Ok, deixa ele, pensei, deve ser uma coisa meio hip hop. Na segunda vez em que ele me chamou pra tomar um drinque, ele estava com uma bermuda cuja estampa era a bandeira dos Estados Unidos. Hmmm. Depois foi só confirmar a sequencia de camisetas  e – o pior – a conversa que ouvi dele falando maravilhas sobre… Miami. Sorry, folks, pior que um fumante só mesmo um adorador dos Estados Unidos.

planeta água

02/09/2010

“tenho seis planetas em água”, eu disse.

“por você, eu beberia a água de seis planetas”, ele disse

divina dama

12/05/2010

“Se deus fizesse um mostruário da obra dele, você estaria na capa!”

😉

Quase páscoa, entro num taxi. No rádio, mulheres conversam sobre como fazer para não perder a forma na Páscoa, como congelar ovos de páscoa e ir descongelando aos poucos, pra que durem o ano todo, mais ou menos até chegar o Natal, dica estranha…

Confesso que  estou cansada. Tanta regra, tantas ordens, tantos do’s & dont’s. Me sinto uma megera indomável, the untamable shrew. Dentro de mim mora um dragão que solta fogo pelas ventas a cada vez que alguém me dá uma ordem, inclusive eu mesma. Sempre chamuscada, vivo  pra amansar o dragão. “Calma-te carinõ!” pra cá, “Calma, Conga!” pra lá… Cansa.

O fato é que eu comentei com o motorista: “… chatice de mundo, tanta regra pra atender, não é mais possível ser feliz! Meu sonho é ouvir um conselho assim: Se for da sua preferência, devore todos os ovos no mesmo dia, um após o outro, sem a menor culpa. Exercite ultrapassar limites e desafie o establishment de vez em quando. Contrarie sua mãe, seu chefe, o padrão estético, seu médico, sua melhor amiga, sua crença e seu deus. A Páscoa é ótima pra isso, só tem uma vez no ano…  Eu quero vida com prazer”.

O motorista virou-se pra me olhar, e disse, enfático: “É isso aí, é isso que eu acho tb! A vida foi feita para ser vivida, para ter prazer. O cara td certinho é um chato, faz tudo que a mamãe aplaude, que o papai se orgulha, que a sociedade acha lindo. Um chato que não admite erros. Nós somos cheios de faltas.”

Vendo que uma loja de sapatos que eu amo estava liquidando, doida para cometer um pequeno excesso, gritei: “Pára aqui, moço! Vou descer!”. E ele: “Mas já? O papo tava tão bom… vou te dar meu telefone pra vc me ligar pra bater papo. Difícil um papo bom assim…”

Pela tangente, respondo: “Ih, eu sou comprometida, não vou pegar seu tel”

E ele, objetivo: “Mas não é pra compromisso, não”

A libertina que abriga um dragão agradou o motorista. Mas, talvez, por obediência ao establishment, sinhá pagou a corrida e saiu sem pegar o tel do cara. Mas que sapato lindo!

 

“Ele foi embora”, eu falei pra minha irmã. “então faz um post”, disse ela.

Era carnaval na Praça São Salvador, em Laranjeiras. Eu sentada numa mesa de boteco com amigos.

Ele* me olhou lá do balcão, abriu um sorrisão solar pra mim. Conheço ele de onde? pensei, retribuindo. Ele veio na minha direção: “Oi, tudo bem? Eu sou o fulano, muito prazer”. O sotaque é do interior de São Paulo? alguma coisa assim, que eu não reconheço.

Dois minutos depois a gente trocou mais sorrisos, ele pediu licença e sentou na mesa com meus amigos. Conversamos tudo, falamos sem parar, mãos dadas, namorando na pracinha, o samba ruim rolando por todo lado. “Vc acredita em vidas passadas?” – ele perguntou – “Não” eu disse. “Então como vc explica isso?”. Não sei explicar. Suingou, timbrou, deu samba.

No dia seguinte M, que tava lá, me ligou: “Rapaz valente, ein? Chegar daquele jeito…”. Pois é, deve ser coisa de vidas passadas.

Torpedos, telefonemas, emails, olho no olho, beijo na boca no bar, caminhadas de mãos dadas no calçadão, relatos da vida inteira vendo a tarde virar noite, lá do alto da Pedra do Arpoador, garrafas de vinho no Baixo Gávea, encontros no Leblon, beijos que nunca chegavam ao fim no corredor do supermercado, lágrimas de emoção, meio bêbados daquilo tudo: Vamos viajar pra Floripa, vamos pra Ilha do Mel! Fotos e mais fotos juntos, lindos, sorrindentes, sortudos!

Ontem ele voltou pra casa. Se vamos nos ver, não sei. Tudo pode acontecer, independente dos nossos planos, inclusive. Não estou triste. Porque eu sei que tem muita gente por aí que nunca nunca viveu nada parecido com isso. Isso é que é tristeza…


*Ele já foi citado aqui como “o menino de ontem”

vi, sim

body and soul

15/02/2009

Ele disse:  “…yours are the sweetest lips mine ever tasted…” E aí tocou Body and soul e Afternoon in Paris no meu piano.

pescaria

30/12/2008

Visualize a sequencia*:

Uma virada masculina, clássica, de pescoço, acompanhada de comentário de um pescador sorridente, a cujo sorriso faltava dentes, bem na frente. A vara de pescar, no ombro. Camiseta de português, barriga proeminente, bermuda e chinelo de dedo,  O peito trazia aberto, o andar altivo e dolente, mirando firme em direção ao Caminho dos Pescadores, Leme, Rio de Janeiro, apagar das luzes de 2008:  “Ai, que garoupão!”

 *(Sem acento diferencial e sem trema, mermo. O trema caiu! Agora as pessoas vão dizer: “Eu sou do tempo do trema”. Dã.)

da cor do pecado

03/12/2008

ao pé do ouvido, no samba: “tua sorte é que deus não te fez preta. se tu fosse preta, tu era o diabo”