o bug do milênio
09/07/2016
… ninguém mais compra CD. CD serve só como cartão de visita. Tem que gravar e disponibilizar tudo, afinal, pra que serve ter um trabalho trancado em casa? Mas sem fazer vídeo, nem adianta, pq video é fundamental hoje em dia. E tem que investir pra viralizar. Patrocinar os eventos, as postagens, os links, os videos. Pra bombar na rede. Bombar não quer dizer vender, é só ter uma chuva de likes, mesmo. Mas, ó, sem gravar CD, vc não vende show, não entra em festival, o trabalho não fica profissional. Tem que ter CD pra vender em show, praquelas pessoas que ainda compram, poucas, mas tem. Ah, tá. Não tem que ter, mas tem que ter.
ué. Mas as pessoas pararam de ouvir música? Não. Ah, entendi. Pararam de comprar música. E, sem querer, eu passei a fazer um trabalho voluntário para encantar o mundo.
Não acho justo. Estou há três anos tentando encontrar recursos pra gravar um novo trabalho sem precisar, pela terceira vez, passar o chapéu pelos amigos. Tenho, pelo menos, três projetos na prateleira, sem a menor perspectiva de sair de lá por falta de dinheiro.
Mas digamos que eu consiga grana pro estúdio e tenha amigos maravilhoso que vão DOAR seu tempo e seu talento pra gravar, fazer arranjo, fazer coro, fazer capa, liberar a parte legal do trabalho, compor canções pra mim, pilotar o estúdio e depois editar, mixar, masterizar. E depois outros amigos incríveis vão emprestar seu equipamento, seu estúdio, sem tempo, suas câmeras, sua maquiagem, seu figurino, pra fazer o tal vídeo. Todo mundo fala: pô, esse é o momento do coletivo, do coworking… Aí, como ninguém compra música, eu pego o meu trabalho e o trabalho dessa gente toda, os dois anos que a gente investiu da vida da gente, e faço um link, em todas as plataformas, pra todo mundo baixar, ver e ouvir, sem pagar, pq ninguém compra música, né? mas tem que pagar pra viralizar, tá? Senão vc não existe como artista.
Disse o Tremedão: estou sentada à beira de um caminho que não tem mais fim…
quiet storm*
03/04/2016
vc era estranho. formal. sério. daquele tipo que aperta a mão e tem um jeito desajeitado de dar dois beijinhos e de abraçar sem encostar. olha nos olhos de leve, ri de lado, e nunca manda beijo na assinatura do email. um abraço, no máximo. mas naquela primeira reunião presencial, numa camada acima daquela onde estavam nossos computadores com mil abas abertas, onde a produção bombava, onde eu aprendia com vc, senti um calor borbulhar bem no centro da mesa. me ajeitei na cadeira um pouco desconsertada, dei um gole na limonada aguada, pedi um café.
quiet storm. lembrei do baile charme, da música pra sensualizar. quiet fire. tive vergonha de te desejar, porque vc não é meu tipo, aquela nao era a ocasião, nem o lugar. mas passei a semana pensando naquela centelha que pingou ali, entre tablets e notebooks e fez um buraco no epicentro da mesa de reunião. não sei se vc reparou. mas eu vi.
quando nos reencontramos, raramente e exclusivamente a trabalho, sinto um pequeno desconforto por não saber o que fazer com esse tesão infundado. depois a vida passa seu arrastão e leva tudo.
hoje eu te vi com uma mulher. numa mesa de bar, bebendo e beijando o beijo mais lascivo, lambendo pescoço, cheirando, idolatrando, endeusando, querendo aquela mulher, como se ninguém estivesse em volta. pura luxúria. assisti de longe seu desejo derrubando paredes, atravessando avenidas, escalando penhascos, invadindo quartos pela vidraça, descabelando e entortando a linha do horizonte.
eu sabia.
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*para ouvir Quiet Storm: https://www.youtube.com/watch?v=ETGXvWFoEi0&list=PLZLxC6rAOhrjdK3Tnm6Onti5OQziuFu-E
a vida eterna*
19/11/2015
Não tenho religião. não creio em deus-pai. Mas sei que somos corpos energéticos, geradores de energia. Acredito na dispersão das partículas e que a energia sempre se transforma, sem se extinguir. Ondas sonoras, pensamentos, movimentos, efeito borboleta. É tudo tiro no éter que, uma vez disparado, não para nunca mais, infinito afora. Isso pra mim é a vida eterna de verdade. Quando morre alguém querido, gosto de pensar que a pessoa virou uma poeira cósmica, cuja energia ainda circula por onde circulo, enquanto ainda estou neste corpo. Quando não estiver mais, também quero rodar por aí, salpicando o universo com o pó da minha estrela. Somos todos carbono, como o diamante.
Se tudo correr bem, pessoas vão lembrar da gente, para o bem e para o mal. Engraçado pensar em que momento alguém dirá: “ah, isso é a cara dela!” ou “ela adorava isso”, ou quem dirá “ai, que saudade que me deu do jeito dela rir”, enquanto viaja numa velha imagem guardada, numa lembrança boa, num cheiro. Todas as pessoas morrem, mas a gente vive enquanto for lembrada com carinho. E é a isso que eu chamo de eternidade, fazer parte da história das nossas pessoas, estar no coração delas, como uma luzinha daquelas de não deixar o corredor escuro, à noite. Sem ninguém saber, a gente lembra da pessoa, do jeitinho dela, de uma coisa que ela teria dito e, assim, ela continua viva dentro de nós. Um dia tudo isso reverterá ao pó. E, quem sabe, o amor que sentimos e vivemos, quando for a hora da nossa transmutação, possa também se reciclar e fertilizar a terra?
*pro tio Marun. agora, poeira de estrelas .
The unspeakable
14/04/2015
Ligo pro mercadinho da esquina pra pedir coisinhas urgentes pro dia. A mulher atende com simpatia, até eu perguntar: “e camisinha? Tem camisinha?”
Ela engole seco antes de soltar um breve e assustado “ãn”?, como se eu tivesse perguntado: “Vcs vendem cocaína bem purinha aí?”
“Sim”, respondo, “camisinha”.
‘”Não, não tem, não…” Negativissima.
Ok e prossigo com o pedido. Quando estou quase pedindo pra fechar, ouço um tímido “tem”. “Tem sim.”
“Tem sim, o quê?”, pergunto, já com a cabeça na lista.
“Aquele negócio que você pediu”
“Ahhh, a camisinha?”, reforço, didática.
“É. Isso aí mesmo.” Sem sequer balbuciar a maldita palavra, sem dizer o indizível!
Que tipo de mulher pede camisinha, numa segunda à tarde, assim, sem disfarçar a voz, entre tomates e filtro de café?
Divertida, me sinto transgressora como uma adolescente falando um palavrão cabeludo na frente da família. E mando fechar a conta, camisinha incluída.
Recebo as compras em casa e lá vêm elas: camisinhas sabor melancia.
Me zuou.
bonus
06/09/2013
ótima
27/06/2013
– nossa! tá gata!
– caraca, que linda!
– abalou!
– tá arrasando, amiga!
– uau, vc tá demais!
– lindona!
por que será que é tão importante que o primeiro comentário sobre uma foto seja sempre dizer que a pessoa está linda, mesmo que ela nem esteja? é claro que ninguém se auto-fotografa, fazendo cara de quem nem tinha percebido a câmera, pra ser chamada de feia, óbvio. e, no fundo, toda mulher quer ser linda. ninguém neste mundo sabe, melhor do que nós mesmos, escolher nossa melhor foto, nosso melhor ângulo. anos e anos de intimidade com o espelho, muitas caras e bocas pra ninguém, testes e mais testes. antigamente, ter uma imagem publicada era privilégio de pessoas públicas. hoje todo mundo é pessoa pública. o anonimato e a privacidade são um luxo, só para quem quer muito.
– nossa, mas vc está ótima!
estou bem, obrigada. mas estou muito mais ótima por dentro do que por fora.
em que fotografia aparece isso?
a little respect
08/04/2013
só por hoje abrir os olhos e tirar da frente todo julgamento. olhar para as coisas aceitando o jeito de ser de tudo, sem cair na tentação de pensar se-fosse-eu, se-fosse-comigo, tá certo, tá errado. não pensar em nada. só olhar e ver e aceitar e apaziguar o coração da mania terrível de consertar o que está fora e deixar o de dentro quebrado.
fechar os olhos para o erro do outro e enxergar o meu. direção defensiva, fazer o bem, esperar o bem, sempre, sempre, no matter a situação. só por hoje olhar para todas as pessoas do mundo com o mesmo olhar. o mendigo, o professor, o amigo, o porteiro, a balconista da farmácia, a senhora, a adolescente. sem julgar nada. sem achar nada. sem classificar. sem rotular, sem querer entender nada. só aceitar.
sair à rua assim. e cada vez que vier um ímpeto classificatório, um achismo, vir com a mão pesada da educação pela pedra e afastar pra lá a tentação. respeitar, sem julgar, sem achar nada. só respeitar todas as escolhas, todas as diferenças, todas as pessoas e coisas sobre a mesma face da terra onde ando.
e de só-por-hoje em só-por-hoje, um dia terei treinado o meu olhar para simplesmente aceitar toda diferença como semelhança.
tá no ar!
03/04/2013
vida de bailarina
02/04/2013
diálogo entre dois gatinhos, entreouvido na academia:
“po, cara, tu tem que ver a comida que eu fiz hj (se olhando no espelho, levantando a camisa pra apalpar os gominhos do tanque): peito de frango grelhado, omelete de 6 claras, arroz integral e salada.”
o interlocutor, tb se olhando no espelho, responde: “po, e eu? peito de peru e um pratão de verdura sem azeite e sem sal. vou ficar sequinho, broder”
“podicrê, mermão”
saiu!
21/02/2013
exclusividade
01/12/2012
vc não é a única pessoa do mundo com a sua idade. vc não é a única mulher do mundo que tem celulite. vc não é a única pessoa do brasil que não tem grana. vc não é a única pessoa do mundo que tem problemas. vc não é a única pessoa do mundo que tem filhos. vc não é a única mulher do mundo que não tem filhos. vc não é a única pessoa do mundo que sabe cozinhar bem. vc não é a única pessoa do mundo que sofreu uma perda. vc não é a única pessoa do mundo que terminou um relacionamento importante. vc não é a única pessoa do mundo que sabe fazer bem o que vc sabe fazer bem. vc não é a única pessoa do mundo que fez uma merda inestimável. vc não é a única pessoa do mundo que acertou. vc não é a única pessoa do mundo que tem sorte, nem a única que tem azar. tudo está no mundo igualmente distribuído para todos. vc não é especial. vc não é preterido. as coisas estão no mundo, minha nêga. é tudo nosso.
sem comentários
25/09/2012
se vc comentar meu blog eu vou amar. vc acha isso pouco?
(hj tive 70 visitas e 0 comentários)
todo aquele jazz
06/09/2012
pré-natal
09/07/2012
eis aí a primeira faixa do meu CD, Jamba, que estará entre nós, em breve, pela Mills Records!
é só clicar aqui:a criação
A CRIAÇÃO (FRED MARTINS / ANDREA DUTRA
PRIMEIRO
SÓ CHORAVA O DIA INTEIRO
ABRAÇADA AO TRAVESSEIRO
NÃO PODIA ACREDITAR
SEGUNDO
ACORDEI NUMA RESSACA
MINHA SEDE NADA APLACAVA
SÓ QUERIA TE ENCONTRAR
TERCEIRO
TOMEI UMA DUCHA FRIA
PRA VER SE A DOR ME FUGIA
SÓ PENSAVA EM TE ESQUECER
NO QUARTO
LIGUEI A MINHA VITROLA
VOCÊ NÃO DÁ MESMO BOLA
PRA QUÊ VOU ME COMOVER?
NO QUINTO
MANDEI TROCAR O SEGREDO
POIS MEU CORAÇÃO NÃO É SEU BRINQUEDO
PRA VOCÊ QUEBRAR DEPOIS LARGAR ALI SOZINHO
NO SEXTO
PASSEI UM BATOM NA BOCA
ADEUS MARCAÇÃO DE TOCA
NÃO NASCI PARA SOFRER
MAS
SE ATÉ DEUS PAROU PRA DESCANSAR (PEDIU PRA PARAR)
NO SÉTIMO DIA, ENFIM, DESENCANEI
E FUI PRO SAMBA SAMBAR
fora da área
18/09/2010
toda ouvidos 2
29/09/2009
mais uma conversa dos outros, dessa vez no supermercado:
um – (…) eu não tenho saco pra reclamar, pra chamar gerente, a gente perde muito tempo com essas coisas, se a gente pensar em qto tempo a gente já perde…
outro – eu nunca acho que eu to perdendo tempo, eu to sempre vivendo. To aqui, to vivendo o supermercado, to vivendo tudo, to aproveitando, tudo faz parte da vida…
Olha o Arranco aí, geeente!
04/08/2009
Meu orgulho
Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.
mi casa, su casa
17/11/2008
Bem-vindos, todos, ao novo endereço do avant-dernières. Os arquivos estão todos lá no www.avant_derniere.blogger.com.br e ficarão disponíveis por lá, normalmente. Aqui to começando do zero.
Ainda não estou totalmente familiarizada com as possibilidades desta casa, mas chego lá. Os comentários estão habilitados, ufa!, mas se vc ainda preferir, temos o email avant@andreadutra.com.br