tsunami
11/03/2015
abro o Face e vejo a foto de um baterista que, qdo tinha uns 20 anos, foi uma paixonite minha. paro, estatelada! socorro! ele virou um tiozão de camisa polo! na mesmo noite, vejo a foto do meu primeiro amor, um verdadeiro maracujá de gaveta, como dizia meu avô. tenho me assustado, sobretudo com os homens da minha geração que, por se cuidarem menos que as mulheres, estão uns cacos. horrível dizer isso, pq, a esta altura, eu já devia ter olhado pro espelho, encarado a realidade dos fatos e deixado pra trás essa bobagem toda, sublimando as marcas do tempo, encarando a chance de estar aqui, bem, inteira, como uma dádiva.
a velhice é como uma inundação que se anuncia. está chegando, o tsunami está vindo na minha direção. já consigo ver os sinais nos meus pais, no meu pescoço, na pele e, principalmente, no olhar dos outros. pra uns, já virei coroa. nem sabia que isso já ia acontecer agora, tão cedo. qdo a gente olha de dentro, a perspectiva é outra. por dentro, terei sempre a mesma idade-Andréa, que não é um número, mas uma fotografia de um pôr-do-sol no verão do Rio de Janeiro, pronto pra explodir em acontecimentos incríveis e momentos fulgurantes. assim seja!
aceitação
29/05/2014
fulana de tal
05/11/2013
num dos corredores do supermercado, ali entre os ovos e os legumes, dou de cara com uma imagem familiar de mulher. minha memória paquidérmica corre atrás dos dados, fazendo um total scan muito veloz e me devolvendo a resposta na fila do caixa rápido de 15 volumes: é a fulana-de-tal!
fulana-de-tal foi minha colega de colégio. era das sete maravilhas da escola, atrás de quem se formavam filas de garotos, os mais lindos, os mais bacanas, os mais tudo. ela declinava com toda suavidade feminina, sua timidez perfeita, seu recato delicado e sua atitude de princesa disney: um meio sorriso de cabecinha torta, os olhos muito azuis virados pro chão. na festa, não bebia nem fumava nada. não tomava aquele pileque de martini com a gente. não falava palavrão. não cantava, nem tocava violão, não fazia teatro, nem entrava nos festivais e nunca chorou no banheiro abraçada à melhor amiga. ia embora cedo, sem beijar na boca de ninguém, o que aguçava o apetite de lobo mau pra cima dela. linda, tímida e virgem, praticamente uma santinha de novela das seis, uma prenda. e tirava 10 em tudo. insuportável.
fulana-de-tal era a mais linda das lindas. uma perfeita chata que eu invejava com todas as minhas forças. eu queria ser ela por um dia, saber como seria ser adorada e endeusada, aquela fila de lindos garotos, à beira do altar. eu, a gordinha que nunca fez sucesso com os meninos, que falava palavrão, bebia, fumava, era a última a sair da festa, já tinha perdido a virgindade sem glamur nenhum, tocava violão e cantava, ria alto e dava beijos escandalosos, e vomitava de madrugada, cuba libre, martini, cigarrinhos de vários tipos e culpa. muita culpa e uma vocação fatal pra ser mal amada.
pois é, senhoras e senhores, fulana-de-tal, que me perdoem os politicamente corretos, está um bagulho. um ba-gu-lho. sobre sua figura matrona paira apenas a sombra daquela feminilidade delicada. os olhos azuis estão lá, atrás de centopeias de rugas nos olhos. engordou, perdeu o viço, está com o pescoço empapado. tá, eu tb embagulhei, mas eu nunca fui uma princesa encantada. e agora eu sou cantora, sorry, fulana, aliás, baranga-de-tal.
o carrinho de compras da fulana-de-tal era modelo classe média standard: carne moída, coca zero, pão de forma branco, salsicha, margarina, bisnaguinhas, requeijão, macarrão, tempero pronto, molho pronto e muita mussarela. deve ser por isso que ficou esse bagulho, penso do alto dos meus 16 anos, rindo, por dentro, a bandeiras desfraldadas, finalmente vingando as dores da juventude e lembrando da fala da madrasta da branca de neve: “maldita, eu me vingarei!”
quero ser benjamin button
09/06/2012
velha senhora
03/04/2012
acho que é da idade. tá bem, esse papo de idade já cansou, to ligada. mas sempre que tento mudar de assunto, como por exemplo, trabalho, vem ela, a idade: “… vc tem que se acostumar, temos que dar lugar a outras gerações”, ouvi, “agora é a vez deles, não tem jeito.”, chapei, “bom mesmo era no nosso tempo”, engoli.
meu tempo é hoje, tentei dizer, mas calei, por falta de firmeza. acho que falta de firmeza não é coisa da idade, que deveria dar firmeza, se não nas pernas, no propósito. calei. mas na verdade, fico aturdida pq não acho nada disso, sofro do Complexo de Peter Pan (ou seria de Wendy ou de Sininho? será que não tem nenhuma personagem feminina que não quer crescer? logo as mulheres, que precisam ficar jovens pra sempre? estranho paradoxo.)*.
(corta)
nas duas últimas semanas morreu um tanto de gente à minha volta, não gente suuuper próxima, mas próxima o suficiente. a mãe de uma amiga, o pai do ex, o Ericson Pires, um amigo das antigas. Ademilde Fonseca não era minha amiga, mas a conheci num momento especial e lamentei a morte dela. Chico Anísio, Millor… todo dia, uma morte. qdo to esquecendo, lá vem outra! o assunto rondando, assombrando, ameaçando: batidas na porta da frente, é o tempo. resisto: não adianta bater, que eu não deixo você entrar.
(corta)
em oposição ao tempo, o agora.
em oposição à morte, a vida.
não!
oposto à morte é o nascimento, diz o poeta.
não há oposição à vida.
não há oposição à vida.
não há oposição à vida.
*já reparou que, nos contos de fada, homens são maduros e as mulheres, eternas meninas? enqto isso, aqui na terra… nem inventaram um feminino pro tal complexo forever young…
idades
21/11/2010
quando uma pessoa fala: “quantos anos você acha que eu tenho?”, eu nunca respondo o que acho. Primeiro pq eu nao vim com esse dom da adivinhação, não sei dizer qual a idade de uma pessoa pela cara dela. Depois porque, mesmo se eu tivesse esse dom, eu não diria. Uma pessoa que formula essa pergunta, sempre espera uma resposta X que pode não ser a que você vai dar. Uma menina de 15 anos adora parecer ter 17, mesmo que pra vc isso nao faça a menor diferença. Já uma pessoa mais velha, em geral, quer que vc diga: “Nããããõ! Não é possível que vc tenha essa idade com essa carinha e esse corpinho!” Quem quer assumir a idade, fala logo. Na dúvida, o silêncio será sempre o maior dom…
figura e fundo
27/11/2008
tenho pensado na passagem do tempo, na idade, na velhice. é a primeira vez na vida em que o mundo começa a me tratar com respeito, com deferências à minha experiência. Me sinto uma espécie de Tia Doca, uma senhora gorda, preta e boa de feijão, com voz de pastora, quando encontro uma cantora da jovem-guarda que vem bater cabeça pra mim. Me incomodo terrivelmente com isso e nao tenho o menor fair play com piadas sobre idade. Talvez eu me acostume quando isso deixar de ser novidade, com o tempo… Embora eu esteja melhor de aparência agora do que antes, a minha idade aparece e não vai desaparecer com uma boa noite de sono. Os sinais estão lá, estampados. Me lembro do dia em que me vi refletida na janela de um ônibus, à noite, eu do lado de dentro, a cidade escura por fora. Aquele vidro virou um espelho que me refletiu, iluminada pela luz fluorescente: it shows! pensei, está tudo lá. Todas as coisas que vivi. Não tem como a gente ludibriar a natureza. Se tivesse, a gente escolhia a quem amar e a quem não amar.
Minha mãe é uma mulher elegante, linda, cheirosa e vaidosa que, apesar de nunca ter feito uma plástica ou similar, sempre se preocupou em manter a beleza e a juventude em sua bela aparência. Sempre sorridente, simpática, carinhosa, é daquelas pessoas que iluminam o ambiente. Ela não está muito confortável com a passagem do tempo. Não estamos. Acho que a outra mulher da família, minha irmã, está maravilhosa e não me parece se incomodar como nós, somos mais fúteis e vazias do que ela. A outra, a afilhada, tem vinte e oito anos e tomou o primeiro toco da vida. Linda, jovem, vai se recuperar como todas nós. A outra, a sobrinha, ainda está encantada com tudo, vive pulando, falando alto, está em festa e com o colágeno e a elastina bombando. Como todo mundo que é feliz aos sete anos.
Na rua vi um homem de uns setenta anos, muito bonito. Altissimo, magro, ereto, olhos azuis, pele branca, cabelos brancos, barba bem feita, vestido de khaki e verde musgo. Chique. Cruzamos os olhares, profundamente. Vi, como num relâmpago do passado, o rosto dele quando era jovem: cabelos louros na infância, castanhos na vida adulta, bonito, atlético, esportivo. Pensei que a aparência e a idade são como um escafandro que vestimos progressivamente, que vai afastando nosso corpo daquilo que nunca muda. Como se a gente ficasse de dentro, pra sempre olhando o mundo com os mesmos olhos jovens, curiosos, ávidos, sensuais, desafiadores. Ele me olhou com o que nunca envelhece em nós. Eu retribui com o que nunca vai envelhecer em mim. Aprendi com a minha mãe que a nossa luz tem que servir para iluminar a vida. Sou uma mera aprendiz, mas chego lá…