tsunami

11/03/2015

abro o Face e vejo a foto de um baterista que, qdo tinha uns 20 anos, foi uma paixonite minha. paro, estatelada! socorro! ele virou um tiozão de camisa polo! na mesmo noite, vejo a foto do meu primeiro amor, um verdadeiro maracujá de gaveta, como dizia meu avô. tenho me assustado, sobretudo com os homens da minha geração que, por se cuidarem menos que as mulheres, estão uns cacos. horrível dizer isso, pq, a esta altura, eu já devia ter olhado pro espelho, encarado a realidade dos fatos e deixado pra trás essa bobagem toda, sublimando as marcas do tempo, encarando a chance de estar aqui, bem, inteira, como uma dádiva.

a velhice é como uma inundação que se anuncia. está chegando, o tsunami está vindo na minha direção. já consigo ver os sinais nos meus pais, no meu pescoço, na pele e, principalmente, no olhar dos outros. pra uns, já virei coroa. nem sabia que isso já ia acontecer agora, tão cedo. qdo a gente olha de dentro, a perspectiva é outra. por dentro, terei sempre a mesma idade-Andréa, que não é um número, mas uma fotografia de um pôr-do-sol no verão do Rio de Janeiro, pronto pra explodir em acontecimentos incríveis e momentos fulgurantes. assim seja!

tenho uma tia que não vai à praia por causa das varizes, que não quer exibir. A outra tia, morrendo de rir, fala: “na praia do leblon, com aquelas meninas lindas de morrer, vc tem que dar graças a deus se alguém olhar pra sua cara! ainda mais pras suas pernas!” e quá quá quá.

Eu passei a vida brigando com meu peso. sanfona, sanfonérrima, sanfoninha, acho que nunca passei um ano inteiro com o mesmo corpo. estou sempre indo ou vindo. mas hj, gordinha, o sol brilhou depois da chuva no feriadão. e sol, procuro pegar todo dia, pedalando e dando um mergulho-axé no arpoador.

a minha vida não está fácil, mas tb nao está difícil. to inteira, faço o que gosto, tenho boas perspectivas e gente amada em volta. e posso ir à praia, que fica a 3 quadras da minha casa. tá reclamando de quê? da celulite? aham. crianças sendo bombardeadas por aí e vc preocupada com a celulite? herdei aqueles braços gordos da vovó, que odeio fervorosamente. Mas de uns tempos pra cá, dados os fatos da vida, comecei a achar que, independente da aparência, o importante é ter braços. num ímpeto de maturidade e autoestima, resolvo: vou botar uma camiseta, braço de fora, pq quero desfrutar desse sol, me bronzear.  Nuuuuunca usei braços de fora, mas hj vesti minha camisetinha e fui pedalar e pronto! comemorando o dia da consciência, nêga! biquini por baixo, pro santo mergulho no final do percurso, saí de casa me sentindo linda, gostosa, braços de fora, feliz, entre outras coisas, por uma recente conquista de mulher, dessas que te elevam à 20ª potência. subi no meu camelo (gíria do meu tempo pra bicicleta) e fui por aí,  em pleno sol, pista fechada pro feriado passar. gatinhos, adultos, velhinhos, bebês, magrinhos, gordinhos. o rio de janeiro sorrindo para o planeta. e eu.

desfruto de um lindo dia de sol e verão e mar e arpoador. encontro amigos pelo caminho, vou ouvindo músicas lindas, vejo uma roda de capoeira, tiro fotos, vejo o sol se por. mais tarde tenho ensaio. que bom. na volta pra casa, me vejo refletida numa vidraça de portaria.  os braços gordinhos de fora. e feliz, linda e gostosa pra mim mesma.

 

la luna

16/06/2011

o dia era da lua. eu sou canceriana, né? lunar, lunática. fui pedalar e ver o eclipse da lua. vi a lua branca, cheia perfeita, redonda, desaparecer às mordidas, enqto eu pedalava do leblon ao arpoador, ida e volta, ida e volta. o eclipse  enegrecendo tudo,  até que se cumpriu, cobriu, descobriu. o arpoador rugia. faz frio nesta cidade.

depois, noite alta, fui pra lapa, pra rua. A lua, a noite toda, novamente em plenilunio. até beijei uma boca, rapaz novo. pecado, pensei, tadinho, pensei, me fui. no caminho de volta pra casa, a danada da lua me olhava, pela janela do taxi, da lapa ao leblon. chegando em casa, quase de manhã, a lua ainda molhava a minha cama pela janela aberta, na hora de fechar a cortina.

amanheceu, fechei o blackout . ela está encoberta pela manhã. eu, também. nós, as selenitas.


asas da liberdade

02/11/2010

Eu nunca desejei voar de verdade. Sofro de vertigem. Me contento em voar em sonhos, mantendo a altura por debaixo do teto do pátio coberto do Colégio Notre Dame e, por vezes, era mesmo o teto branco, meio descascado, da garagem do nosso prédio na Joana Angélica. Outras, vai saber, era no Chiswisck Town Hall que eu voava, depois da aula de balé, na volta para casa. Agora dei de sobrevoar cidades que nem conheço. Ora voo baixo. Ora voo alto. Mas nunca deixei de sonhar com o voo.

E quando pela primeira vez fumei haxixe com um namorado e depois sentamos num bar da Lagoa e eu, comfortably numb, bebia aquela bebida muito gelada e doce, enquanto via a mim mesma flutuando sobre uma lagoa azul-noturno iluminada, seu lodoso fundo cheio de monstros do Loch Ness e de lontras e de Iaras, sereias e Iemanjás. As margens piscosas dadas aos duendes, aos pixies, aos elfos e todos elementais do fogo terra água e ar. Eu ali, bebendo aquela coisa mexicana, e eram tacos com salsa de tomates, uma bem simplinha e a outra com chilli ardido.  O ar era meu, tudo estava quente. Tinha eu 18 anos de idade.

Depois encontrei a música,  nem precisei mais voar.  Nado por debaixo de mares e atravesso oceanos em apneia, sem nunca perder o ar. Coisa de sonho. Mergulho aqui  no Leblon e saio vezes na Lapa, vezes no Arpoador, aonde já encomendei que joguem minhas cinzas, pq nobreza maior não há de haver do que ser fertilizante de fogo terra água e ar. O doce retorno.

Meu superpoder conheci hoje, durante um ensaio, quando cantei junto com passarinhos de cantos frondosos, eloquentes, vigorosos, ensaiados. Enchendo aquela sala amarela e seus ramos verdes de canto. O nosso, os deles.

Eu, que nem pensara em voar, por um momento fui alada, singrando os céus de azul da cor do mar do Rio de Janeiro, batendo rapidamente as minhas pequenas asas amarelas, sobrevoando a Baía da Guanabara. Cristo Redentor, as luzes quase se acendendo, Ipanema, Arpoador, Leme, Urca, Botafogo. A cidade toda se dourando à tarde, enquanto nós, os pássaros, cantávamos voando de galho em galho.

Lá embaixo os carros correndo, já meio quase na hora de acender os faróis, a rua vazia pelo quase-feriado, painéis azuis, taxímetros vermelhos. Algumas pessoas esperavam para atravessar as ruas com guarda-chuvas de todas as cores, mas não chovia mais.

Era azul, verde, dourado. Era música. Meu superpoder é cantar.

a praia do arpoador ao leblon, durante o jogo brasil x chile: ninguém em casa