Respeitável público,

Descobri que ganhar dois minutos do dia de uma pessoa é a coisa mais difícil do mundo! Mas vcs, que já gastaram muitos minutos comigo, são diferentes. Então eu queria pedir pra vcs assistirem a esse video aqui, que demora só um cadinho mais que dois minutos:

A realidade é a seguinte: preciso de ajuda para levantar fundos pra lançar o meu CD Jamba, do qual vcs tanto já leram por aqui. O custo é altíssimo, mesmo pra fazer a mais simples das produções. Precisamos de R$!5,900. Tirando taxas e custo, sobram R$10 mil pra nós, pra pagarmos tudo o que precisamos, de equipe a material de divulgação. Juro que essa grana só dá pra saída.

Até agora, mais de 100 pessoas 

já colaboraram. Já atingimos mais de 50% do total, estamos otimistas e felizes com tantos colaboradores e repetidores, amigos que compartilham, arrecadam, torcem e botam fé. Só falta você para chegarmos a 100%. Temos apenas 15 dias pela frente até o fim do prazo, e o show está marcado para o dia 25 de maio, na Sala Baden Powell, Copacabana.
Para colaborar, basta você participar da nossa vaquinha virtual. Você entra neste link http://catarse.me/pt/jamba escolhe a quantia que quer dar e vê o que você vai receber em retribuição à sua ajuda. São CDs, ingressos para o show e outras coisas legais. Todos os valores são recompensados.
Qualquer quantia, a partir de R$10,00 é bem vinda e indispensável pra nós. No site, explicamos como funciona e como vamos empregar o dinheiro. A coisa toda é feita para ser fácil, mas se você preferir, pode me escrever para que eu possa tirar suas dúvidas.
Aqui tem duas críticas sobre o meu trabalho, pra provar que não é só a mamãe que gosta 😉
Crítica de Antonio Carlos Miguel, n’O Globo online http://g1.globo.com/musica/antonio-carlos-miguel/platb/2013/02/28/querido-diario/
Crítica de Beto Feitosa para o CD Jamba – http://www2.uol.com.br/ziriguidum/1302/130221-01.htm
O meu canto é uma missão, tem força de oração E eu cumpro o meu dever Há os que vivem a chorar Eu vivo pra cantar e canto para viver Há os que vivem a chorar Eu vivo pra cantar e canto para viver 
obrigada, queridos, muitos beijos com amor,

um post de peso

25/10/2011

Qdo minha mãe me levou, pela primeira vez, ao médico de regime, eu tinha uns 13 anos. Ele disse: “tadinha, está horrível!” Ela disse: “A família do meu marido é de gordos…” Ele disse: “É… a culpa é sempre do marido…” Fui a mil médicos desde então.

Uma maldição genética. Guardei, a vida toda, temor e ódio profundo dessa herança. Eu só comecei a ser gorda, mesmo, a partir dos 9 anos, quando comecei minha primeira dieta. Aos 3, qdo eu tinha apenas bochechas de bebê, meu tio – gordo – me apelidou de Gorda. Era um jeito de ser carinhoso. Gorda.  Se fosse hoje, seria bullying.  Ser gorda me aterrorizou a vida toda, aquele shape familiar me assombrou e, enfim, meu pesadelo se realizou!

Engordei muito, cada vez mais, emagreci muito. Inúmeras vezes, sempre achando que era a última vez. Me exibi, me escondi. Desisti da dança: gorda não dança. Vivi a maior parte da minha vida envergonhada de mim, andando na beirinha do mundo, mudando de calçada, tentando me recolher à minha insignificância de casta inferior, de gorda-sem-vergonha. Silenciei. Sonhei. Fracassei. Não é nada fácil ser uma garota gorda no Rio de Janeiro, cidade onde é obrigatório ser gostosa e passar a vida de biquíni, de vestido de alcinha e de shortinho. Passei dez anos de roupa preta e pele branca, uma saída honrosa do imperialismo tropical carioca. Sofri bullying de mim mesma, odiei meu corpo a vida toda. Sempre tive minha deficiência apontada pelos olhares e comentários da família, dos amigos, e até pelo porteiro desconhecido: “Tem uma moça forte aqui na portaria”.

Fui agredida como A gorda, na rua, muitas vezes. Houve pessoas q pararam seus carros, abriram os vidros, desaceleraram, só pra me sacanear qdo eu estava pedalando ou caminhando ou até correndo na praia: “Vai, baleeeia, tu tem é que correr até a África” ou “Vai arriar o pneu da bicicleeetaaaaa, sua escroooota!” Nunca contei pra ninguém porque, de certa forma, achei que era o que eu merecia ouvir. Tomava aquele tiro frio e chorava na bicicleta, mas continuava. Sempre que emagreci, pessoas que nem falavam comigo me enxergaram, outras quiseram até me namorar. Eu sempre achei que eles estavam certos. Tento entender todos os lados, meus e deles. Todos os pesos e medidas. Coisa de gordo isso de ser compreensivo demais.

Se houvesse um milagre, me candidataria, mas não acredito em milagres. Nem naqueles que eu mesma operei, pq dentro de mim, existe alguma coisa que jamais mudou e que, a essa altura, acho que jamais mudará. Antes, nem queria emagrecer, para não passar pela infelicidade certa de engordar. Hoje, sem forças pra mudar tudo de novo, vejo aquele velho pesadelo tomar o lugar do meu sonho, no espelho. Na minha idade, será que não está na hora de começar a me aceitar?

Pra conseguir sobreviver, armei uma carapaça de poder e coragem e subi no palco. Perdi alguns trabalhos por ser gorda e compreendi, pq sempre carreguei a sensação de ser “nigger of the world”, e me recolhi, com a submissão dos que se compreendem inferiores. Semi-invisível, desfeminilizada pelo mundo, aprendi a ser uma gorda legal, de personalidade. A confidente do amigo gatinho que tava a fim da amiga gatinha. A boa cia, bom papo, bom copo, um tipo de mulher-cão, melhor amiga do homem. Mas nunca a convidada para o reservado do restaurante japonês. Fui infeliz no amor a vida toda. Minha sensação de inferioridade pautou a minha vida afetiva.

Sofri, mas inventei um lugar pra existir. Fiz de tudo pra mudar, mudei por alguns períodos em que quase acreditei na transformação definitiva, mas sempre sucumbi e, dentro de mim, alguma coisa sempre me impulsionou de volta à velha forma. Nunca foi confortável ser eu mesma, mas sobrevivi, mesmo deficiente. Meu handicap foi ser inteligente, multitalentosa. E como todas as pessoas sobre a terra, mesmo as marcadas, tenho meus momentos de distração e felicidade.

Leio as pessoas falando do sobrepeso, do outrora amado Ronaldinho, com nojo, com desprezo, com sarcasmo. As pessoas têm horror a gente gorda, mulher gorda, então… piadas, livros, humor negro. Também tenho preconceito contra gordo, é óbvio, depois de tanta discriminação, rejeição e infelicidade. Mas estou aqui escrevendo sobre isso, tornando pública essa intimidade, pq de repente senti essa necessidade. Pq sei que tem um monte de gente que passa por isso e pq todas as outras pessoas não têm a menor idéia do que é passar por isso. Nesta sociedade, não acredito que seja possível ser gorda e feliz. É proibido estar acima do peso. A gente sublima, desiste, disfarça mas, no fundo, não abandona o sonho do milagre da metamorfose, de se misturar na multidão, de vestido de alcinha que, aliás, nunca usei.

Cansei de me desprezar, de me odiar, de me desculpar, de me esquivar, de me esconder, de sofrer por não ser quem eu não consigo ser. Por mais que todos os olhares, revistas, jornais e sites me mandem ser, desde que me entendo por gente. Cansei de viver tentando me entender e me explicar. Mais de 10 anos de terapias. E a vida toda de buscas, de tentativas silenciosas e disciplinadas de reprogramação, de rezas, esperanças e promessas, de projeção astral, de auto-sugestão, de hipnose, de deprê, de mudanças, dietas, bolinhas, drogas e radicalismos. Tudo.

Vivo tentando encontrar a cura para o meu defeito – ou seria pecado? – original. 30 anos lutando contra mim mesma. Rejeitada por mim mesma e pelo mundo, durante 30 anos, sem conseguir me modificar nem um milímetro. Até a astróloga fala: “com esse mapa, vc sempre vai ser farta”. Dureza.

Isso já doeu de arrancar pedaço. Agora dói um pouco menos. Sei que a recaída de um gordo é a maior entre os grandes viciados em drogas: 90% emagrecem e, depois de um tempo, reengordam. A vida tb comprova: quantos gordos, que vc conhece, emagreceram e nunca mais engordaram? Dos meus, nenhum, nem os que operaram o estômago. Então pq o mundo não pode simplesmente admitir que há gordos e magros e pretos e brancos e altos e baixos e gays e heteros. Todo iguais nas suas diferenças.

Antes que eu me condene à infelicidade da exclusão perpétua, de me recolher à vergonha do fracasso, e escolher viver à sombra permanente, me escorando nos cantos onde me sinto invisível, ou num personagem visível demais, hors concours, eu queria só conseguir me aceitar, relaxar, pra viver em paz. E queria falar sobre isso, pq esse tem sido um segredo insuportável de guardar. Sou a evidência física da sua existência. Olhando em volta, depois de tudo o que já vi, buscando algum conforto na inevitável maturidade, tenho certeza de que a vida é muito maior do que um número na balança ou numa etiqueta do guarda roupas. Talvez falando isso em voz alta, assumindo isso publicamente, eu consiga acreditar e me libertar para, enfim, ter paz.

Autoestima, voz, vida, talento, fazer meu trabalho, fazer sexo, amar e ser amada, correr, pedalar gorda ou magra, ir à praia de biquíni, pular carnaval, ser mulher. Quero o meu direito de ir e vir.

na faixa*

17/05/2010

“…seu problema é de faixa etária”, diz minha amiga, tentando me dizer que eu devia ir procurar a minha turma.

Com os pés na areia, começo a pensar que o tradicional método cronológico de classificação etária está errado. A parada deveria ser como na capoeira.  O cara joga, joga, joga (na escola da vida, né, moy?). Um dia, ele vai pra roda e joga com várias pessoas diferentes, de níveis diferentes, pra mostrar o que aprendeu. Se ele se der bem na roda, troca a cor da corda da cintura. Isso independe da faixa etária dele, só depende do jogo. O cara vai jogando, ficando mais esperto, mais treinado e vai trocando de faixa. Mas só se ficar mais malandro.

Nem sempre os mais velhos são mais malandros, nem sempre os mais novos são mais ágeis. O que importa é a qualidade do jogo.

* aproveito para esclarecer para os cariocas que, em SP, uma coisa “na faixa” é uma coisa grátis, tipo assim: damas grátis até meia noite = minas na faixa até meia noite.

Taryn Szpilman pintava os cabelos de vermelho boneca quando eu a conheci, cantando na Rio Sound Machine. Um dia, chegando mais perto, notei que ela precisava retocar a raíz… loura! Até então eu só tinha visto loura de raiz preta. Taryn é loura de raiz, mas é esperta como se morena fosse!

Taryn tem aquilo de que ando falando na série cantoras: presença, sangue nas veias, timbre, afinação e personalidade. Faz o que quer com a voz black and blue, passando pelo jazz e pelo rock com louvor. É dona da sua voz e da sua praia. Além de tudo é linda, a bandida. Eu nem sabia, mas hoje é aniversário dela, então vai aí a homenagem. Senhoras e senhoras, com vocês

*

* Cristina, de Tim Maia e Carlos Imperial

ps: a banda é um es-cân-da-lo!

retrato

26/01/2010

Na fotografia estou sorrindo um sorriso que nem me cabe na boca, os olhos acesos, ao lado dele. Ele passa o braço em volta do meu ombro, espaçoso e confiante, com os olhos mareados de tanta fumaça e noite. O sorriso é de plenitude e cerveja.

Em cima da mesa, erguemos uma estranha catedral de bolachas de chope. Em volta de nós, a Lapa e nossos amigos incríveis. Malandras e malandros no salto alto, colares de sementes, guias de todas as cores e todos os orixás. Figas de guiné e ouro no pescoço. Os instrumentos estão apoiados nas mesas e cadeiras. Nos divertimos na pupila do olho do vulcão onde tudo é puro fervo e adrenalina e altas gargalhadas.

Dentro de mim a fogueira arde, o fogo lambe, estalando as achas no meu epicentro. Estou em plena combustão, fulgurante e viva como uma brasa.  Unhas vermelhas, cabelos de cobre, pele dourada. Eleita e pertencente. Depois, amanhecemos em todos os pontos da cidade, Aterro, Diabo, Mirante do Leblon.

Já vejo o pessoal recolhendo as mesas, colocando as cadeiras de pernas pro ar, amontoadas.  A água, cheirando a Creolina, molha os pés do pessoal da saideira, lavando o chão, empurrando os restos da noite pros bueiros das ruas, onde os primeiros trabalhadores já estão indo trabalhar e onde os postes já se apagam. O sol varre, da rua, os boêmios que nunca querem ir pra casa dormir. Ligamos o ar bem gelado e nos enfiamos debaixo de um edredon branco e fofo, o blackout vedando as frestas das janelas. E a felicidade lá.