finito

11/07/2013

quando eu era mais nova, me achando dona do tempo, andava pela rua de cabeça erguida,  ostentando a minha juventude, que gritava que eu ainda tinha tudo pela frente, podia tudo. podia, mesmo. o que eu não sabia é que, mesmo depois dos 30, mesmo depois dos 40, ainda posso tudo. e que o tempo não é privilégio da juventude. o tempo é privilégio dos vivos.

saber que a vida é um pavio que vai queimando ininterruptamente dá raiva, dá medo, dá revolta, mas é um bom motivo pra espanar a poeira da frescura, pular por cima da dúvida, derrubar o muro da vergonha, enxugar as lágrimas, acabar com o mimimi, abrir o peito e fazer tudo. tudo.

quando a gente cresce, a gente descobre que não é só morrer que acaba com a vida da gente. morrer é fácil. quero ver é continuar viva enqto houver vida, com a mesma cabeça erguida, encarando o tempo, gozando com a existência e tirando proveito da finitude. quero ver!

afazeres

16/03/2013

ocupar a potência

reconhecer a impotência

abrir a porta

descobrir a força

encarar a escalada

subir

admitir defeitos

aceitar as falhas

embelezar o feio

negociar os vícios

habitar o corpo

ouvir

assumir o volante

segurar na rédea

rodar o timão

e ir

vida afora

agora

um vento bateu dentro de mim que eu nao tive jeito de segurar

escolhas

06/11/2012

não se pode andar de cabeça baixa qdo se fez uma escolha.  não se pode se desvalorizar, nem se explicar, nem se desculpar depois de ter tomado uma decisão de vida. as escolhas implicam um conjunto de escolhas. efeitos colaterais são para os fracos. quem escolhe, calcula. aquilo a que vc se dedica é aquilo que vai te dar nome e função. e pão. ou não. ou pau. ou pedra. mas é de onde sairá a sua satisfação e sua tristeza,, e todo o conjunto de matizes disponíveis de resultados. escolher de verdade não permite lamentação, não permite fraquejar, não permite surpresas. tudo custa alguma coisa,  tem que engolir seco e continuar. ou escolher outra coisa. a vida é feita de escolhas e de esquinas que nunca viramos, portanto, nao temos como saber o que teria acontecido, caso a escolha tivesse sido outra. só nao se pode confundir escolha com garantia de sucesso. não existe sucesso pré-moldado. tudo vai se desenhando e redesenhando, como a areia na beira do mar. a mesma areia, o mesmo mar, sempre outros. a coisa pode não dar onde vc planejava. vc escolhe como dar a largada, em que passo vai correr, como vai se preparar, mas nao sabe que adversários vai encontrar pelo caminho, não sabe como vai estar a estrada. mas mesmo assim, ora, vc vai estar no páreo  pra ganhar ou perder. e o nome disso é viver.

Onde queres revólver, sou coqueiro E onde queres dinheiro, sou paixão Onde queres descanso, sou desejo E onde sou só desejo, queres não E onde não queres nada, nada falta E onde voas bem alto, eu sou o chão E onde pisas o chão, minha alma salta E ganha liberdade na amplidão

porque sim*

06/05/2011

Vc sabe que eu sou, acima de tudo, apreciadora dos encontros. Os bons encontros dão alma à vida. É a eles que atribuo minha riqueza, são eles que movimentam e poetizam a vida. No domínio dos encontros verdadeiros não há a vigilância da moral ou regras de tempo-espaço. Há apenas pessoas na mais completa redução, na essência. Sem culpa, sem salamaleques.

Qdo a gente se permite viver para deixar que o momento brilhe, a gente descobre que tem um monte de coisas entre uma coisa e outra coisa, coisas sem nome, com faces variadas. Verticais, intensas, breves, meteóricas. Ou horizontais, longevas, perenes. Tantas qualidades de encontros, tantos momentos voláteis. Fotografia. Tempus fugit.

A gente tem o hábito de rotular para entender as coisas e, no momento em que rotula, acaba por matar a chance de deixar aparecer o que não tem nome. Sou a favor dos encontros sem nenhum nome, sem nenhuma catalogação apriorística. Esses ficarão pra sempre na prateleira da importância, da permissão, da pausa para o jazz da vida, do viver o que há pra viver, do combinar, do surpreender-se. Sem nomear e etiquetar. Só a puríssima arte de encontrar. Seja no Estádio da Luz, em Matosinhos, no Leblon ou na Lapa.

*post resposta ao email do Pedro, um encontro overseas, facilitado por este blog.

joio e trigo

03/02/2011

Avança, pula uma casa, perde a vez, volta vinte casas, recomeça. E vai aprendendo a jogar. Me sinto amadurecendo, aprendendo a ser eu mesma, diminuindo os filtros, tentando conciliar meu desejo de ser com o que é possível ser, respeitando atavismos, valores básicos, relaxando. Vigilante, mas sem ser tão madrasta, tão sargenta, tão madre-superiora. Tem uma hora em que a gente aprende a ver até onde dá pé e a partir de onde não dá mais. E eu sou rebelde, louca desvairada, sem começo nem fim. Bandida, solta na vida, sob medida.

Brigo muito comigo mesma e quero trégua. Quero relaxar, parar de me sentir perseguida por mim mesma, sempre insatisfeita. Quero acreditar que é possível ser feliz fora do quartel. Conflito é a base do movimento. A vida que tenho me faz gulosa, quero sempre mais, pq sempre acontece de tudo, muito, o tempo todo. Viciei. Fico pensando na brevidade do tempo, na vontade de viver tudo o que há pra viver. Fico pensando que um dia não vou mais me acabar de sambar. É o contrário de aproveitar o tempo perdido. Aproveito pra frente, acumulando pros dias de chuva.

Por um átimo eu me permito, me perdoo, me divirto comigo mesma, me admiro, me desejo e me convido pra dançar, só mais um pouquinho, enqto dura essa breve contradança. Ou esse vento.