Eu sou cozinheira. Desde pequena que eu tenho esse gosto pela cozinha, e pela comida, e já cheguei até a viver de cozinhar pra fora. Foram quatro anos na cozinha, ao lado da minha mãe e da minha comadre, fazendo quentinhas e congelados de tu-do que é tipo de comida que existe! Sushi, comida árabe, comida chinesa, francesa, italiana, massas, bolos, tortas, doces, salgados, sopas, saladas, trivial, finezas, besteiras, macrobiótica… tu-do!

Aprendi um monte de coisas, mas não sou dessa geração que acha que saber cozinhar me transforma em chef. Até porque, chef é cargo, o nome do trabalho é cozinheiro, mesmo. Sou chefe da minha própria cozinha e não quero gourmetizar esse prazer e esse saber simples. Já sou artista, cantora, não preciso de mais nenhum holofote.

Ao longo dos anos, muitos e muitos anos cozinhando, e estudando comida e alimentação e ingredientes e nutrição, fui tendendo cada vez mais pra cozinha simples, com ingredientes frescos, comida feita todo dia por nós e para nós, colorida, balanceada e nutritiva. É um longo processo que não tem dia pra acabar: aprender a tornar deliciosa a comida mais saudável possível, até para quem odeia a ideia de comida saudável. Tenho me surpreendido positivamente.

Fiquei anos sem comer carne, voltei, e agora estou sem carne vermelha e industrializados em geral há mais de um ano. Eventualmente, mas nunca em casa, apelo pro frango à passarinho no boteco, ou para um peixinho, que amo. Em casa, verduras e legumes ocuparam, naturalmente, os espaços da cozinha e eu me sinto limpa comendo assim. O que pode mudar, se eu quiser, porque a gente vive várias vidas e muda o tempo todo. Mas daqui, me parece que nunca mais volto pras carnes, pq não consigo olhar pra uma costelinha, por mais deliciosa que seja, sem lembrar do porco, inteligente feito a gente. Me sinto uma canibal, comendo um irmão. Além disso, a cozinha sem carne nunca fica gordurosa, grudenta, fica tudo limpo.

Vejo a cozinha como um laboratório pra aprender, pra meditar, pra curar, pra alegrar, pra investir e ter o retorno lento dos dias, um após o outro. Um dos meus maiores prazeres é inventar pratos. Raramente abro um livro de receitas. Faço a feira, abro a geladeira e ali penso no que vou fazer com o que tenho. Crio e cozinho altos pratos pra mim mesma, sozinha, quase todos os dias. Eventualmente, cozinho pros amigos. Atualmente, voltei a vender comida, uma ou outra coisa que o povo gosta.

Há anos as pessoas me cobram um food blog com as receitas e fotos que posto, exclusivamente, no meu instagram, então resolvi abrir uma página para isso, aqui mesmo, e concentrar tudo num mesmo espaço.

Comida de verdade é isso: vc pega o ingrediente como ele veio ao mundo, transforma, mistura, combina, tempera do seu jeito, et voilá! 

alho