o piano
21/09/2015
Tinha piano na casa dos meus dois avós. desde pequena eu me trancava na sala onde ficava o piano e mandava ver. tocava aleatoriamente, em momentos de fantasia e entrega, como se soubesse tocar. tentei estudar sozinha por um método, e poderia ter começado ali, mas nao tive incentivo. pedi pra estudar piano mas, a minha mãe, traumatizada por ter sido obrigada a se formar no conservatório, não deixou. então, dei meu jeito. peguei um violão que tinha sido da minha irmã, e venci o coitado pelo cansaço. tinha eu 14 anos de idade…
insisti, aprendi umas músicas da moda, fiquei feliz, fiz umas canções, mostrei pros amigos, entrei em festivais, ganhei e perdi e, quando vi, aquilo tinha virado a minha vida. quando fiz 16 anos, minha mãe me deu um violão de verdade. mas nunca soube tocar direito, embora tenha começado assim, tocando violão e cantando em bares, nos intervalos de outros artistas, até achar meu próprio lugar.
anos depois, já cantora e adulta, fui estudar piano e me dediquei totalmente a recuperar o tempo perdido. estudei muuuito, muito, mesmo. anos e anos praticando loucamente. hoje, o piano que tenho em casa é o que meu avô mandou vir pra minha mãe estudar nele. e, assim, fizemos as pazes com o destino do piano, com a música na família e com meu sonho. nunca toquei como gostaria de ter tocado, mas isso não importa. ser cantora é um encanto que nunca se esgota.
sonho de uma noite de verão
04/11/2014
love songs
27/07/2013
amigos, café, chocolate, vinho do porto, fumo. a música é variada. coisas que a gente nunca mais cantou, e cujas letras emergem dos subterrâneos da memória, trazendo junto avalanches de lembranças e cheiros e cores de outras vidas. e os amores. penso nas paixões que vivi, no fracasso da minha vida amorosa, nas péssimas escolhas que fiz, nas incontáveis frustrações. volta a velha e permanente sensação de que o meu pacote de serviços não inclui amar e ser amada. embora esteja acostumada, tenho me sentido só. quem, nunca? deve ser o inverno. ou a idade. ou o vento. passa. canto canções de amor e, por dentro, me sinto uma impostora. as canções de amor quase perderam o sentido pra mim, é como se eu cantasse sobre um unicórnio, sobre uma fada, um dragão, ou atlântida. ausência ilustre, lâmpada queimada, terreno baldio, corda quebrada de violão. amor: meu continente perdido.