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26/06/2018

Hoje faz 3 meses que parei com laticínios, glúten, álcool, açúcar, ovo e industrializados. E também com o antidepressivo, o analgésico, a cortisona e o antiinflamatório. Difícil? Dificílimo!
Mas há 3 meses eu não conseguia mais andar até a esquina. Vivi os últimos 3 anos, silenciosamente, suportando o insuportável. Dor constante, 24h/dia, por causa de uma lesão de quadril que foi piorando até quase me tirar a mobilidade e a alegria

 de existir. Achei que não tinha mais jeito, que ia ser daquele jeito dali em diante. A saída era colocação de prótese total de bacia.

Eu que amo sambar no pé, que fui bailarina, que amo dançar e ir à praia. Acostumei a ficar na sombra, envergonhada por achar que, sempre, tudo era minha culpa. Me autoflagelei em vão.
No momento em que decidi pedir ajuda, o universo me levou ao @kurotel_ e ao seu staff 

hiper competente e amoroso. Comecei a reaprender tudo com eles e voltei pra casa com o desafio da continuidade. Até este momento, estou honrando o compromisso, e estou cada vez melhor. Exercícios todo dia (ou quase), alimentação incrível e uma mudança que as pessoas reparam e falam: “caramba, sua energia mudou!”

Sim, energia, corpo, medidas, tudo mudou. E continua mudando pra melhor, todo dia.
Mas o mais importante de tudo, e o motivo pelo qual vim aqui contar essa intimidade, é que recuperei a esperança. Nada neste mundo é mais triste que o vazio estéril da desesperança.
Semana que vem faço 54 anos. Me sinto viva, inteira, saudável, dona da minha vida, pronta 

pra sambar no pé, mesmo meio capenga, por muitos anos, cheia de alegria e de esperança, novamente. Renasci. Ainda sinto alguma dor, nada é fácil, não existe mágica, mas tem momentos em que nem lembro do desespero em que vivi nos últimos anos. Qto mais me exercito, menos dor tenho, qto mais cuido da alimentação, melhor fico.

Se vc está ai, ferrado, triste, morrendo de dor, ouça um bom conselho: Seu estilo de vida pode mudar a seu favor. E sim, uma mudança na alimentação pode SALVAR A SUA VIDA! Não
 é impossível!
Tem um monte de gente neste mundo preparada pra te ajudar. Se vc não pedir ajuda, nem a sorte pode te ajudar! Peça ajuda! Boa sorte! Obrigadas mil.

 

com a perspectiva da primeira cirurgia da minha vida, tenho pesadelos de morte e acordo com o coração na boca. embora eu tenha apenas uma condição mecânica adversa que pode (e deve) ser corrigida, sinto como se estivesse me oferecendo em sacrifício. morro de medo e vertigem e quase todo dia tenho um episódio de pânico e desisto: foda-se, vou sentir dor pra sempre, já acostumei, mesmo. a dor é minha, ninguém tasca. Mas, depois, quando a dor me tira o rebolado, o sono, o suingue e a simpatia, eu cedo. E rezo por um milagre enquanto, a contragosto, me preparo.

distraída nas minhas mil dores, esbarro num rapaz sorridente, que cruza, pé ante pé, o meu caminho, cada dia um passo.  moribunda  que estou, descreio que eu possa ser o alvo de tamanho sorriso, graça e desejo. mas, surpresa, aceito esse convite pra mais uma contradança. e logo percebo um sol sentado em meu sofá, irradiando luz, sorrisos, música e carinho.

estamos envoltos nessa conexão surpreendente –  mudamos o eixo da terra em uma noite -,  e um vórtice de energia passa por dentro da minha casa a cada vez que a gente se toca e sorri. a paz reina, soberana. eu sorrio.

experimento a polaridade absoluta deste momento, ora no claro, ora no escuro, ora no yin, ora no yang. passo do frio ao calor, do macio ao áspero, do medo ao conforto.

tenho apenas uma certeza: estou viva. bem viva.

2014-07-20 17.46.58

saÍ de casa atrasada para o casamento. ainda tinha que passar no caixa, tirar dinheiro, passar no supermercado e comprar uns não-perecíveis que os noivos pediram como colaboração para a comunidade espiritual da qual fazem parte. botei vestido novo, pintei cabelo, fiz as unhas, me maquiei. merda, não tenho sapato! fui, afobada, meio capenga, me sentindo vazia, uma solteirona incorrigível, feia, velha, gorda, pobre. hopeless.

casamento lindo, velas, esteirinhas e almofadas de chitão espalhadas pelo gramado, a descontração da festa e das pessoas, a alegria genuína sem pose, sem boá de plumas e óculos ridículos e sandálias havainas de brinde. ninguém se fantasiou para ir a essa festa, ninguém fez um cenário de cindelera. era a vida simples, colorida e linda como ela é. depois da choradeira, a alegria foi coroada com uma linda roda de samba, da qual participei cantando coisas de amor. fui contagiada pela felicidade do casal, pelo vinho, pelos amigos. sosseguei.

de repente, numa roda de amigos, me chama a atenção uma mocinha morena, muito sorridente e magra, em cujo colo se podia ver, sob a finíssima pele, um marca passo. de algum lugar da memória, vem a lembrança de uma campanha para arrecadar fundos para uma moça que havia descoberto um câncer terrível, em estado bem avançado, com uma chance de tratamento na Alemanha. O rosto dela veio num flash. Era ela. lutando a favor da vida, há anos, incansável, determinada, sorrindo no samba.

o marca passo aparente evidenciava, como uma bomba relógio, os tiques e taques do tempo que se apressa, não só pra ela, para todos nós. uma ampulheta silenciosa correndo e avisando, como o coelho da Alice: é tarde.  é a morte que faz a felicidade urgente.  chorei, no banheiro da festa, pela moça do marca-passo ali sorrindo, conversando, como se nada estivesse acontecendo, com a vida por um fio, mas querendo, com todas as forças, continuar no samba. desejei ter super poderes pra mudar o rumo da história. lembrei, imediatamente, de abraçar meus amigos, de ser grata pela vida, de cuidar da saúde. e de parar de reclamar do sapato ou de ter que pintar os fios de cabelo branco, que me avisam duas coisas: o tempo passa. mas você está viva. vamos sambar.

the BB way

23/11/2011

reza a lenda que as empregadas marroquinas são silenciosas, invisíveis, imperceptíveis. Andam pela casa sem que ninguém as note. Tenho sonhado com esse despercebimento.  Jamais dans la vie eu tinha sentido esse ímpeto Greta Garbo, esse I want to be alone tão profundo, essa vontade Brigitte Bardot, de descer do palco e ir me ocupar de focas. Brilhar, neste momento, não me pertence. Não tenho dentro de mim a matéria com a qual se fabrica o brilho. Kafka. Um dia acordei e não era mais meu corpo, minha vida, eu. Não, não tem consolo, nem volta, nem choro, nem vela. Quero silêncio, sombra e uma pausa de mil compassos.