o tempo da urgência

30/05/2010

“Telefone é pra uma emergência, não é pra ficar pendurada batendo papo. Conversar é ao vivo!” bradava meu pai, na minha adolescência, quando eu realmente passava o dia in-tei-ro no telefone. No tempo em que as linhas de telefone fixo custavam uma grana preta e as pessoas ficavam anos na fila do plano de expansão, que levava telefones aos lares brasileiros.

E também, obviamente, não havia celulares, nem computadores domésticos, nem fax, nem tv a cabo. Nem pager ainda não tinha existido. O que existia era um bip, que os médicos tinham. Era uma central de recados que te bipava. Se vc estivesse na rua, vc comprava uma ficha telefônica na banca de jornal, e ia procurar um orelhão que funcionasse. Qdo vc encontrava, ligava pra central e tirava o recado. Tudo isso entre pessoas humanas, que se falavam, anotavam recados, uma loucura! Era dura a vida da comunicação. A gente tinha que marcar hora com a telefonista pra fazer uma chamada internacional. E eu nem sou tão velha assim…

As notícias tinham que esperar pelo meio de transmissão mais próximo. A forma mais rápida de enviar uma notícia era ir ao correio, no expediente comercial,  e passar um telegrama. Aí vc expedia a notícia urgente e esperava o dia seguinte, o correio da outra cidade abrir, o carteiro entregar o telegrama blá blá. Depois, nem precisava mais ir até o correio pra passar, era telegrama fonado. Chiquérrimo. Essa era a coisa mais urgente do mundo.  Agora a urgência é soberana, a vida é em real time.

Depois teve o telex, mas não pra uso caseiro. Logo apareceram os pagers, que todo mundo tinha, não só médicos. A mensagem aparecia digitada na sua telinha. Logo depois, vieram os pcs, os celulares, a tv parabólica, a tv a cabo, os apaches, a manada de búfalos e estamos aqui, soterrados por meios de comunicação, nos ocupando de nós mesmos como nunca, nos exibindo em sites, blogs, twitters e facebooks. Falando e escrevendo pelos cotovelos.

Estamos tão íntimos dos nossos aparelhos, ninguém mais acha o menor problema em conversar online, namorar online, comprar online, fazer sexo online, tomar decisões online, fazer reunião de negócios caríssimos online. Tudo normal.

O ICQ morreu, quem lembra? E os chats do IRC? O Orkut está para o Facebook assim como a TV aberta está pra TV a cabo. Não vai acabar, não vai mudar e vai ter sempre um público alvo.

O fato é que não há uma única vez em que eu passe pela portaria da casa da minha mae, em que o porteiro dela não esteja no telefone. Pô, essa parada de celular é mó adianto pra porteiro, né? Aquela cena  igual, todos os dias sentado, vendo a vida passar… Pelo menos o cara bate papo com alguém. Se quisesse,  mesmo pelo celular, ele poderia estar fazendo uma universidade à distância ou visitando o museu do Louvre ou aprendendo a tocar pandeiro ou a cultivar orquídeas.

Mas acho que meu pai tinha razão: conversar continua sendo bom, mesmo, ao vivo

5 Respostas to “o tempo da urgência”

  1. Eu fui educado assim, essa coisa de telefone ser pra emergência e não pra bate papo, e também sou dum tempo pré eletrônico. E acho lindas todas as suas fotos. XXX

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  2. maray said

    eu não tinha celular até uns 3 meses atrás. Aí minha filha não aguentou e me deu um. Eu escrevi o número atrás porque eu não decoro. E só dei o número pra duas pessoas: maridão e filha. E disse que não queria, mas acedi em usar pra emergências.
    Sabe o que descobri? Que minha vida não tem emergências. Nunca usei o bichinho. Eta coisa boa!!

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  3. maray, vc é um ser superior, né? Não conta!

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  4. hmmm, to toda feliz, pq tava sem camera há meeeses e finalmente consegui comprar uma! bj, obrigada

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  5. esse geeente, esse post tá muito txt da velhinha falando dos tempos modernos, né? to beige! rs

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