para um amor no recife

21/10/2009

este post tem trilha sonora:

Você, barman-DJ-modelo da boate hype. Eu, cantora do Rio, em temporada na cidade. Dois na moda naquele momento e lugar.

Sopa de cabeça de peixe na praia do Pina, no velho puteiro, paredes azuis, sedução. Vc largando sua namorada gata pra ficar comigo, a gente na moto: tenho medo, vai devagar. A gente amanhecendo, cabelo ao vento, gente jovem reunida. Almoço no motel, cama redonda: Mãe, desmarca meus alunos, to pegada aqui…

Meu Mauricio de Nassau, meu descobridor dos sete mares. Pernambucano do interior. Lindo. Louro. Galego do zôio azul. Meu James Dean do agreste, rebelde, caladão. “Saudaditu”, você dizia.

Calado, me levou pra comer peixe seco salgado com cachaça e limão, numa casa de chão de cimento e paredes cor de rosa, TV ligada, forró tocando no rádio, santos na parede, cerveja muito gelada. Ficamos bêbados, nos apaixonamos, nos beijamos, ralando os cotovelos nos muros das casas do caminho, pulando no banco de trás do carro, aimeudeus, quero morar aqui. Fica comigo, fica aqui.

Aí você sorriu pela primeira vez. Ganhei, pensei! Tá comigo, é meu! Era no pé de uma ladeira. Tinha uma igreja por perto. E mais ladeiras e igrejas. Peguei as malas na bela casa de Olinda, obrigada-amei-foi-lindo e partimos, de fusca emprestado, você dirigindo e feliz, me levando pra casa, pra mais uma semana, mais uma só, tá? Centro antigo de Recife, seu apê rachado com mais dois: – mãe, desmarca meus alunos de novo, vou ficar mais uma semana, muitas paradas rolando…

Café da manhã duas da tarde, cará com manteiga, queijo coalho, ovo frito, café doce, fraco e ralo no copo de requeijão. Maconha. Chuveiro quente. Vc me exibindo: essa é minha mulher. Eu prosa de ser a sua mulher, de saltos  enormes nas pedras do chão da velha Recife.

Impossível dormir naquele quarto onde o sol se plantava bem de frente, na hora em que a gente deitava e se pegava, e pegava fogo nas paredes brancas, a cortina velha, despencando. Calor, ventilador barulhento, beijo na boca, maconha, o corpo grudento. Culpa, tesão. Galego dos zôio azul. Delícia, grude, calor, Recife.  Casa comigo pra sempre.

A sua irmã me puxou e falou em off, no almoço de domingo: Casa com ele, menina, dá logo um filho pra ele. Nunca vi esse homem tão feliz! Mudou até a cara!

Você tinha 26 anos. Vamos fugir? Quero que vc conheça minha cidade, minha mãe, quero casar com você, ir morar no interior e te fazer um monte de filho, até morrer. Sim, vamos. Nunca amei ninguém assim. O hotel barato no centrão velho, nossa festinha particular, o lençol que mal cobria o colchão, a TV do quarto ao lado, sexo com amor o dia todo, chuveiro gelado, suco de umbu. Nossos filhos subindo em árvores, felizes, uísque, noites em claro, juras de amor. E como choramos…

Tenho que ir, a grana acabou, vai me ver… queria ir com você… volto logo, é até barato se pensar… a próxima é a minha vez… vou, me espera… vem… vai…

Ainda guardo o seu retrato. Fazia muito calor. Eu tinha 25 anos.

Meu amor eu não me esqueço /Não se esqueça, por favor… (Para um amor no Recife, Paulinho da Viola)

a razão porque mando um sorriso e não corro é que andei levando a vida quase morto quero curar a ferida quero estancar o sangue e sepultar bem longe o que restou da camisa colorida que cobria minha dor meu amor eu não me esqueço não se esqueça por favor que eu voltarei depressa tão logo a noite acabe tão logo este tempo passe para beijar vc

8 Respostas to “para um amor no recife”

  1. Beta said

    Que déééélicia, Branquinha! saudadedetu! bjs

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  2. doidim de saudaditu…

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  3. joseluis said

    gosto demais dessa musica do Paulinho

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  4. um dia eu ouvi essa musica o dia todo, todinho, sem parar, no repeat. cada vez ficava mais linda…

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  5. Adryana BB said

    Menina,
    não conheço a música, nem o Paulinho (pessoalmente)…
    Mas senti minhas bochechas rosarem.
    Esquentou uma lembrança onde não há!

    Impressionante!
    AMEI!
    bjocas

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  6. adry, marca somática… recife sempre vai ter esse sabor pra mim…

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  7. mon said

    ótimo texto, linda f!otografa

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  8. valeu, mon, volte sempre!

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