enriquecendo a biografia
16/02/2010
Sai de casa cedo pra concentrar com o pessoal da ala. Comes e bebes, maquiagem. A fantasia, socorro, é quente demais!!! Entra no ônibus, salta dias antes, caminha dias carregando a fantasia. Nunca saí numa escola do grupo especial. Legal.
Chega à concentração. Concentra. Concentra, horas, coloca esplendor, asa e auréola. Tá pesado. O chapéu está fazendo um corte longitudinal na minha testa. Acho que vou sair da avenida sangrando, como os heróis da bateria. Legal.
O suor escorre pelas costas e pelas pernas, sem falar do rosto e do pescoço. Mas vc nao tem nem a oportunidade de enxugar a testa, pq o esplendor não permite que vc alcance seu próprio rosto. O cabelo grudou. Arranco uma corda inútil de dentro do chapéu e amarro o cabelo. Melhor, bem melhor.
As asas e a auréola pesam nas costas e nos ombros, e a gola da roupa, de tecido sintético, promete que o carnaval vai deixar marcas no meu corpo. Ai, que calor, ai, que sede. essa escola não sai nunca?
Olha a fila da ala! não pode tirar o chapéu! não corre! espera! canta o samba! alegria! vamos lá pessoal!!!
Na esquina da direita, Zeca Pagodinho e Monarco de azul e branco, lembrando as cores da escola que eu dizia que era minha. Depois parei de falar essa bobagem, só estive na Portela duas ou três vezes na vida. Moro longe e nunca tenho cia pra ir. Perdeu, playboy.
Passam o governador, o prefeito, o secretário de governo, dúzias de globetes, muitas wannabe globetes, polícia, milhares de pessoas com camisa de apoio, diretoria, produção, harmonia. Ué, já estamos no recuo? Agora se chama recuo Jamelão. Chato isso, né? Morrer e virar logo nome de recuo… poxa…
A melhor do Jamelão, mal humorado clássico, foi a resposta que ele deu ao repórter que o apresentou como puxador. Ele disse: “Meu filho, puxador, que eu conheça, tem dois. De carro e de maconha. Eu sou cantor.”
Camarote da Brahma, camarote da Devassa, camarote dos ricos, famosos, playboys internacionais e suas amigas socialites com os braços pra cima, taça de champã em uma das mãos. Bicheiros, bandidos, ladrões, traficantes, putas, putos e políticos aos montes. Gringos, às centenas. Paulistas, aos milhares. O samba da Sapucaí é como o futebol do momento, técnica pura. Perdeu a arte e o charme.
Ué, a torre da TV, já? Aquelas arquibancadas lá longe. Olha a Apoteose aí, gente, dispersão, corre! corre! corre! Passaram-se 20 minutos desde a hora em que eu pisei na avenida. Caraca, é só isso?
Caminha 30 minutos pela Praça 11 e Estácio carregando esplendor, asa, chapéu, a roupa grudada, testa ralada. Sobe escada, atravessa passarela, entra no ônibus, engarrafa, volta à concentração, troca de roupa, chega em casa 4 horas depois.
Com essa, encerro minha carreira carnavalesca, como anunciado há uns posts.
PS: se bem que o menino de ontem…
Sensacional, Andréa ! Nunca vi melhor texto sobre o que é desfilar na Sapucaí. Vais levar o prêmio Jabuti (e não o “troféu abacaxi”…).
CurtirCurtir
ahahah,valeu soraya, jabuti canavalesco!
CurtirCurtir
Às vezes um PS vale a carta e uma orelha vale o livro. Era bom mesmo o guri?
CurtirCurtir
espetáculo, maray 😉
CurtirCurtir
suei daqui, mas fiquei com saudades desse passeio lunar
bj
CurtirCurtir
guga, ano que vem te dou minha fantasia 😉
CurtirCurtir